É muito simples dizer “não!” para ideias novas. Afinal, elas nos tiram da zona de conforto, quebram o “status quo”, trazem incertezas, quando se sabe que o ser humano, na sua essência, não gosta de mudar por ser sempre muito mais fácil fazer as coisas da forma como sempre fez. É mais fácil, talvez, mas, que é mais perigoso, isso é certeza absoluta quando se considera que estamos vivendo um momento de mudanças contínuas no qual a estabilização é um risco.
Ideias novas nos levam a conquistas que ainda não tivemos. Não se há de esperar resultados diferentes fazendo as coisas da mesma forma. Algo simples de compreender, sem dúvida, porém, ainda assim, ideias novas são diariamente rechaçadas em empresas, carreiras, famílias ou qualquer meio social em todo o mundo dado o equívoco de que o nosso sucesso no passado garantirá o sucesso no futuro, o que não é verdade. Segundo Charles Kettering, engenheiro autor de mais de 140 patentes nos EUA, “se você sempre fez algo da mesma forma, provavelmente você está errado”.
Uma ideia nova pode estar ligada a uma nova forma de gerir a empresa, à maneira de conduzir a carreira, a um grande invento científico ou mesmo a uma simples mudança de uma dada rotina operacional em nosso departamento de trabalho. Seja qual for o caso, a questão é compreender que se resistirmos à mudança, seremos atropelados na atual sociedade em que vivemos.
No século 16 em Veneza, Galileu, defensor da teoria de Copérnico, tentava demonstrar sua teoria segundo a qual a terra girava em torno do sol e não o contrário. Nem é preciso dizer que a tese afrontava todo o conhecimento da época. Violentamente rejeitado, esteve a ponto de ser ameaçado de tortura se não voltasse atrás em suas teorias científicas. De tal sorte que ele encontraria muita dificuldade para implantar na cabeça das pessoas que esta nova ideia tinha fundamento, que era importante, que mudaria a forma de ver inúmeras coisas sejam estas científicas ou religiosas. Ao final ele venceu: o mundo científico haveria de curvar-se a tudo que ele descobriu. Porém a questão aqui é outra. Com efeito, o escopo deste artigo é examinar por que as pessoas têm tanta dificuldade para Ver, Aceitar e Compreender ideias novas? Por que a primeira impressão que temos, concernente a uma nova ideia, é de que não dará certo? Por que nos sentimos ameaçados quando nos encontramos diante de algo que altera os padrões a que estamos habituados? Por que Galileu sofreu tanto para provar a sua tese para homens tão inteligentes?
Seja você é um empresário de sucesso ou um profissional que está começando na carreira, precisa compreender que o mundo está mudando vertiginosamente: conceitos estão em contínua transmutação, de sorte que o que está certo hoje, pode não estar certo amanhã. Apenas para ilustrar, observe o poder que os consumidores hoje possuem em função das redes sociais; preste atenção a como o relacionamento patrão/empregado se modificou drasticamente nos últimos anos; note como a qualidade dos produtos é mais valorizada do que os volumes produzidos; considere como os produtos são feitos para atender à expectativa do cliente - e não apenas pela visão da engenharia; tenha presente que muitos estudantes estão aprendendo através de EAD(Ensino a Distância) que disponibiliza conhecimentos mais complexos, difíceis de serem obtidos há até pouco tempo; atente a como os profissionais querem ser menos tarefeiros e mais partícipes da caminhada da empresa. Enfim, tudo se transforma, nada é estático, e anteriores modelos de sucesso podem estar apressando o nosso fim se não nos adaptarmos às mudanças que se operam no ambiente em que estamos inseridos.
No momento que você identificar o que gera o bloqueio a novas ideias, certamente estará mais atento a não rejeitar ideias novas, sejam suas ou de outros, entrando em um ciclo de crescimento que certamente lhe trará muito mais conquistas, que por sua vez o habilitarão a conduzir o futuro, em vez de apenas aceitar a chegada deste sem que você nada tenha feito para determinar que o mesmo aconteça.
Naturalmente, as aludidas considerações têm a ver com PARADIGMAS.
Os léxicos definem a palavra paradigma como padrão ou modelo. Paradigmas são conjuntos de regras e regulamentos que:
- Estabelecem Limites;
- Definem como ter sucesso resolvendo problemas dentro destes parâmetros.
Thomas Kuhn, em seu livro “Estrutura das Revoluções Científicas” (1962), salienta que os grandes progressos da ciência não resultam de mecanismos de continuidade, mas sim de mecanismos de ruptura, o que também acontece em nossas empresas e carreiras, vez que estamos acostumados a atender o cliente de determinada forma e questionamos porque haveria de ser diferente; estamos habituados a fabricar nossos produtos com certas ferramentas e máquinas e questionamos porque fazê-lo de outra forma; avaliamos a satisfação dos clientes com certos critérios e não aceitamos outra maneira de agir. Enfim, temos padrões previamente estabelecidos, o que, se por um lado pode ser bom para evitar erros, por outro são fatores que freiam nosso crescimento pessoal e profissional. Os paradigmas funcionam como filtros que retêm dados na nossa mente: constituídos que são por padrões que conhecemos desde criança, ou por formação cultural e educacional, ou por elementos que compreendemos com muita facilidade, o que não é necessariamente ruim. Mas Thomas Kuhn descobriu, através de seus estudos, um efeito negativo resultante destes padrões, visto que as pessoas tinham muita dificuldade de compreender certos elementos em virtude de estarem fora dos paradigmas estabelecidos na mente de cada um. Assim, quanto mais inesperadas e surpreendentes, tanto maior a complexidade de vermos, compreendermos e aceitarmos novas ideias, descobrindo ele que em muitos casos as pessoas nem conseguem ver as mudanças, nem mesmo se esforçando em compreendê-las. Pior ainda, alguns distorcem as situações para encaixá-las nos padrões previamente estabelecidos nas suas mentes, tudo de forma inconsciente. Kuhn concluiu em seus estudos que situações inesperadas podem ser invisíveis para algumas pessoas com paradigmas muito fortes que se contrapõem à nova ideia.
Na prática estamos vendo o mundo o tempo inteiro pelas lentes dos paradigmas que temos, razão por que aceitamos mais facilmente as novas ideias que se enquadram perfeitamente em nossos modelos, tentando dessarte enquadrar as ideias às nossas crenças, desprezando, ao mesmo tempo, tudo aquilo que está fora de nossos arquétipos. Sendo assim, o que pode ser totalmente óbvio para uma pessoa, pode ser completamente imperceptível para outra pessoa.
Como sócio e diretor da Alterdata Software, empresa que atua no segmento de software de gestão empresarial, vejo todos os dias paradigmas cerceadores do crescimento de empresas. Verifico profissionais de alto nível não terem sucesso, presos que estão a conceitos do passado. O que as pessoas em geral não entendem é que precisam mudar mesmo que estejam acertando. É lamentável ver empresários não enxergam a presença de novos mercados, obstruem estratégias eficazes de gerência, mostrando-se refratários a novas formas de resolver os problemas que aparecem. São nossas regras e regulamentos que nos impedem de acertar o passo e construir o futuro, na empresa como na vida pessoal, eis que tentamos descobrir o futuro mediante paradigmas oriundos do passado. Olhamos para os anos 60 e concluímos que a gasolina será sempre barata, que quatro filhos é o ideal, a televisão a cabo nunca dará certo, os produtos japoneses nunca vão prestar, e, em todos estes casos, nos compenetramos da enormidade dos erros, afora outros conceitos a que estamos presos em decorrência dos nossos paradigmas.
Em termos práticos, tomemos o caso das pessoas que assumiram a corrida como meio de se manter em forma. Indague quantos estariam dispostos a entrar numa corrida de 112km de distância. Mas uma corrida a pé, não de carro ou moto. Na mente da maioria das pessoas, a distância de 112km não combina com uma corrida a pé, mas, de carro ou moto por certo seria sopa. No norte do México, entretanto, corridas de 112km são comuns em uma tribo indígena: fazem isso como parte de uma comemoração religiosa. Cumpre perguntar por que é tão fácil para eles e tão difícil para nós? Simplesmente porque os paradigmas são diferentes, e não porque haja alguma predisposição genética. Tenho certeza que se um de nós tivesse crescido na aldeia deles correria a mesma distância sem grandes complicações dado o fato de que teríamos os paradigmas deles, pelos quais tal é possível.
O que pode ser impossível com um paradigma pode ser viável mediante outro. Desta forma, pare e pense se não seria possível à sua empresa implementar diferentes formas de venda dos produtos; de operacionalizar diferentes maneiras de atender o cliente no balcão; de controlar custos de uma forma mais otimizada; de fazer a contabilidade de uma maneira mais racional; controlar o sucesso das pessoas de uma forma incomum); fazer a entrega dos produtos em menor tempo. Enfim: analise o quanto você desprezou boas ideias provenientes da sua equipe simplesmente porque, como líder, confinou-se a preconceitos, paradigmas e padrões culturais preexistentes.
Grandes mudanças vêm de pessoas que não fazem parte do mundo de negócios em que estamos imersos; ou seja: pessoas alheias aos nossos padrões ajudam a encontrar soluções, contudo, nem sempre estamos prontos para escutá-las. Um exemplo aconteceu em uma fábrica de eletrodomésticos bastante moderna, onde de vez em quando, uma das máquinas da produção, que colocava os liquidificadores automaticamente dentro da embalagem, não funcionava, fazendo com que algumas caixas chegassem às lojas vazias, sem os respectivos produtos no seu interior. O setor de engenharia foi acionado para resolver o problema que estava causando grande perda de credibilidade frente aos clientes, e ficaram semanas estudando uma nova tecnologia para garantir que as caixas estariam sempre com os produtos no seu interior. Estudos concluíam que seria necessário investir milhões de dólares em raio laser, balanças de precisão e outros dispositivos eletrônicos. Até que numa das reuniões de trabalho no âmbito da produção, um simples operário pediu para dar uma ideia. A despeito da rejeição de alguns engenheiros, o presidente da empresa deixou que falasse. Foi aí que ele deu a ideia de colocar um grande ventilador, desses que existem em restaurantes, na lateral da esteira que transportava as caixas. Assim, as caixas que estivessem fechadas e vazias voariam lateralmente. Simplesmente uma solução genial, desde que barata e de rápida implementação e que resolveria um problema complexo. Mas por que os engenheiros não conseguiram enxergar algo do gênero? A resposta é simples: devido aos paradigmas, pois os conceitos existentes nas cabeças dos especialistas termina colocando-os dentro de um universo muito técnico, distante, consequentemente, de uma solução tão simples.
Isso quer dizer que qualquer um na empresa pode contribuir real e verdadeiramente para o processo de melhoria do negócio. Assim, pois, o empresário ou líder que se ache melhor do que as pessoas que trabalham na empresa está perdendo uma imensa oportunidade de crescer, pois independente do cargo que temos ou da posição que ocupamos temos os nossos limites. Para quebrá-los precisamos ser excelentes ouvintes, precisamos não dizer não de imediato quando nos trazem uma ideia, pois podemos estar caminhando numa direção diferente de todo o nosso mercado, marchando para o abismo do mundo dos negócios, eis que podemos estar rejeitando ideias geniais simplesmente porque não se enquadram em nossos padrões. Desta forma, fique atento, se você é líder, e não desanime, se for o liderado.
Seu sucesso no passado não garante o sucesso no futuro, e pior, o seu sucesso no passado pode impedi-lo de enxergar as mudanças que o farão ter sucesso no futuro. Isto foi exatamente o que aconteceu com o mercado de relógios em 1968, até então completamente dominado pelos suíços. Neste ano eles detinham 65% do mercado mundial de relógios e mais de 80% dos lucros. Porém, 10 anos depois a fatia de mercado tinha se reduzido a menos de 10% - e tiveram que demitir 50.000 dos seus 65.000 relojoeiros. Hoje o mercado de relógios é dominado pelo Japão - que em 1968 não detinha praticamente nenhum mercado expressivo - e o fazem com uma nova tecnologia do relógio a quartzo e bateria, completamente diferente dos relógios mecânicos produzidos à época pelos suíços, que dominavam o segmento. Porém o mais curioso é que os relógios com a tecnologia atual foram inventados nos laboratórios da Suíça. No entanto, quando esta nova tecnologia foi apresentada pelo cientistas suíços aos fabricantes do mesmo país em 1967, eles rejeitaram liminarmente a ideia, porque esta colidia com os conceitos então vigentes do relógio tradicional: não tinha mancal, engrenagens e nem mola mestra. Desafortunadamente, o sucesso no passado tinha criado paradigmas tão fortes que os impediam de ver que uma ruptura estava para acontecer. Os pesquisadores suíços não desistiram, e apresentaram o projeto num congresso mundial de relojoaria no mesmo ano. Resultado: gostando da ideia, a Texas Instruments dos EUA e a Seiko do Japão simplesmente aniquilaram o domínio suíço. Isso somente aconteceu porque os suíços, deslumbrados pelo sucesso do passado, fecharam os olhos a uma nova ideia porque ela confrontava aquele mundo em que já se destacavam de forma extraordinária.
E é por isso que precisamos adquirir a habilidade de quebrar padrões, bem como de ouvir novas ideias e acreditar que podemos fazer melhor mesmo que já tenhamos um passado glorioso. Segundo Ives Doz: “A maioria das empresas morrem não porque fazem coisas erradas, mas porque fazem as coisas certas por um longo período de tempo”. Então, abra sua mente e escute as pessoas à sua volta. Quantas vezes vejo na Alterdata, empresa que fundei em 1989, líderes difíceis de se deixarem convencer de algo. São, com efeito, excelentes profissionais, mas se perdem em algum momento por estarem presos a padrões que aprenderam no passado. Uma empresa precisa crescer, evoluir, ser melhor para continuar viva, concordem ou não as pessoas que nela trabalham. Vejo empresas de clientes onde a segunda geração começa a administrar mas os fundadores insistem em não permitir que as ideias dos filhos fluam, que sejam postas em prática, o que constitui um grande risco para o futuro. Lembre-se: os paradigmas dos fundadores da empresa são muito importantes para manter o rumo, o foco, a cultura, mas isso não pode ser um limitador para a transformação que a empresa precisa empreender nos tempos que estão por vir.
Paradigmas afetam dramaticamente nosso discernimento e nossa tomada de decisões, influenciando nossas percepções, e para convivermos melhor com a construção de nosso futuro, temos que conhecer com clareza os nossos próprios paradigmas e estarmos dispostos a irmos além deles. Entenda que o paradigma é uma faca de dois gumes: se você a usa com um dos lados, ela fatia as informações filtrando os detalhes finos e precisos que você precisa para acertar; mas quando utilizada do outro lado, isola você dos dados que contrariam o paradigma. Você vê melhor o que espera ver, o que conhece, o que é mais confortável; mas, tudo aquilo que não se encaixa em seus padrões, nos paradigmas criados ao longo da sua vida, perde nitidez. Então lembre-se: paradigmas são úteis, nos mostram o que é importante ou não, ajudam-nos a encontrar problemas importantes e nos dão regras de como resolvê-los da melhor forma que conhecemos, mantendo a nossa atenção. Porém, os paradigmas podem lhe aprisionar condicionando-o a fazer algo como se fosse a única forma de fazer esta coisa, fazendo-o rejeitar novas ideias que lhe permitiriam executar esta mesma coisa de forma diferente, causando uma paralisia que pode destruir uma empresa ou carreira, exatamente como aconteceram com os suíços em 1968. Escute as pessoas que o alertam durante o caminho, e não apenas as que criticam ou elogiam somente na linha de chegada, pois muitas oportunidades poderão advir destes avisos.
Aqueles que dizem que não dá para fazer devem desobstruir caminho daqueles que estão fazendo.
O último importante elemento a se compreender é que as pessoas que criam novos paradigmas normalmente são pessoas de fora da comunidade das que tem os paradigmas estabelecidos, ou seja, são pessoas capazes de pensar fora da caixa justamente por não estar dentro dela. Independente da idade que tenham estas pessoas de fora, o aspecto preponderante é que elas não estão amarradas aos velhos paradigmas, não tendo portanto nada a perder no processo de criar o novo. Assim é que, para você quebrar fronteiras, precisará olhar para além do que tem feito habitualmente; terá que conversar com pessoas e não apenas tentar convencê-las; terá que ouvir pessoas e não somente escutar suas vozes; terá que experimentar sem medo de errar. E o mais importante: terá que instituir em sua empresa ou departamento que trabalha o ambiente propício a que todos colaborem com a criação de novos métodos de trabalho sem a obrigação de acertar sempre. Feito isso, os mais velhos, com paradigmas mais sólidos, haverão que esforçar-se para compreender que os novos padrões nem sempre possuem os mecanismos de segurança de que precisam para se convencerem, pois segundo Thomas Kuhn as decisões sobre novos paradigmas têm por base a fé antes que apenas algarismos e cifras.
A boa notícia disso tudo advém do fato de que nós, seres humanos, temos a capacidade de nos reprogramar, descartando paradigmas antigos e adotando novos de sorte a ver o mundo de uma forma diferente.
Então, como tarefa, pare e responda a seguinte pergunta: "Haveria porventura algo que sua empresa ou setor não pode fazer atualmente, mas, caso pudesse, mudaria radicalmente seus indicadores de desempenho?" Peça a seus gerentes e líderes para apresentar por escrito a resposta desta pergunta.
Pense, pense, pense - e coloque todos os líderes da empresa para pensarem. Faça esta reflexão algumas vezes ao ano, force seus líderes de setores a contribuírem nesta reflexão. As respostas levarão aos limites de seus paradigmas atuais, os quais, uma vez atingidos, permitirão discernir com nitidez os passos necessários para ir além.
O que é impossível hoje pode ser o padrão amanhã. Walt Disney já dizia: “Eu prefiro o impossível porque lá a concorrência é menor”.
Ladmir Carvalho
Diretor Executivo - Alterdata Software