O contabilista como apoio à gestão

O Brasil está mudando, as empresas estão mudando, o relacionamento dos contribuintes com o fisco está mudando, e está na hora do empresário observar o quanto pode se apoiar num profissional que sempre esteve por perto, sendo, no entanto, pouco utilizado no processo de gestão nas pequenas e médias empresas: o contador.
 
A contabilidade começou com os fenícios para registro do comércio.  A atividade de vendas e troca de bens no comércio requeria o acompanhamento de variações patrimoniais quando cada transação era realizada. As trocas de bens e serviços eram seguidas de registros e relatórios sobre o fato. Um escriba egípcio contabilizou os negócios efetuados pelo governo de seu país no ano 2.000 A.C.  As escritas governamentais da República Romana (200 A.C.) já registravam receitas de caixa classificadas em rendas e lucros, e as despesas compreendidas nos itens salários, perdas e investimentos. A partida dobrada que hoje é utilizada na contabilidade começou no período de 1494 da Era Cristã.  Como pode ser percebido, as empresas e governos sempre tiveram a contabilidade como apoio à gestão e registros.
 
Uma empresa funciona não apenas com os procedimentos que ela criou, mas com todo o ecossistema que gira à sua volta.  Se o ambiente muda, é importante que a empresa também mude para continuar viva.  Segundo Yves Doz, um dos grandes gurus de gestão empresarial, “ a maioria das empresas morrem, não porque fazem coisas erradas, mas porque fazem as coisas certas por um longo período de tempo”.  Esta afirmação tem sentido quando o cenário está em mudança, o que é muito característico dos tempos que estamos vivendo.  Muitos empresários acham que o fato de estarem vivos há muito tempo é uma fórmula de sucesso que não pode ser mudada, mas isso não é verdade no mundo dos negócios, principalmente neste momento em que o Brasil se encontra, onde as regras do jogo estão sendo modificadas, onde o empresário precisa de mais e mais informações sobre a sua empresa para tomar melhores decisões.
 
Nas pequenas e médias empresas, o profissional da contabilidade sempre teve um papel bem diferente do que tem nas empresas de grande porte.  Nas grandes corporações, a contabilidade é uma grande bússola que dá a direção da companhia, registra o que está acontecendo e apoia o planejamento das próximas ações.  Nestas empresas maiores, os balanços, balancetes, demonstrações de resultados e inúmeros indicadores de performance são criados e monitorados pelos profissionais da contabilidade.  Porém, nas pequenas e médias empresas o contabilista sempre teve um papel muito mais ligado a cumprir exigências do fisco do que apoiar as decisões da companhia.
 
Como diretor e fundador da Alterdata Software, uma empresa que atende aproximadamente 30.000 clientes distribuídos por suas 75 bases no Brasil inteiro, percebo uma mudança importante que vem acontecendo na relação entre os Contabilistas e seus respectivos clientes.  Com efeito, os empresários estão começando a entender o quanto o seu contador pode fazer pela empresa no que tange a apoiar melhores decisões. 
 
A Alterdata é a maior empresa de software no segmento contábil do Brasil, segundo o ranking da Revista InfoExame, mas também é uma das maiores do país em software de gestão empresarial do comércio, indústrias e prestadores de serviço, o que propicia duas visões bastantes distintas, uma do lado dos escritórios de contabilidade, que lutam para atender a todas as exigências legais, e outra das empresas que precisam tomar melhores decisões.  As empresas carecem de informações, e estas mesmas informações estão disponíveis com o profissional que mais entende dos números da empresa, que é o contador.  Desta forma, o que falta é uma maior interação entre estas duas partes.  Segundo Jack Welch, o lendário presidente da GE (General Electric): “Quando o ritmo de mudança dentro da empresa for ultrapassado pelo ritmo da mudança fora dela, o fim está próximo”. Isso quer dizer que é necessário ajustar as empresas a esta nova realidade, e para que isso aconteça é importante medir os detalhes, saber o que está acontecendo dentro de cada setor da companhia; é importante “torturar” os números da empresa, pois apenas assim se conseguirá tomar melhores decisões.  Segundo Peter Drucker, um dos maiores autores de estratégia do mundo: “Se você não pode medir, você não pode gerenciar”.
 
O que acredito ser importante neste momento é um reposicionamento das duas partes para que o contabilista forneça mais informações sobre o negócio para o empresário tomar melhores decisões, o que já vem acontecendo em muitas relações de negócio:
 
O CONTADOR
O contabilista precisa compreender que o mercado está em mudança, e esta alteração é um momento espetacular para a classe contábil, pois com o advento do SPED (Nota Fiscal Eletrônica, Cupom Fiscal, etc.) e o eSocial (Trabalhista), as informações geradas pelas empresas serão muito mais fidedignas do que foram no passado.  Isso quer dizer que o contador tem condições de compreender com mais precisão o que está acontecendo com cada um dos seus clientes, mesmo que sejam empresas muito pequenas, tornando possível gerar informações para a tomada de decisão, mudança estratégica, planejamentos tributários, influência na formação de preço e lucro da operação.   Normalmente o empresário, e cliente do contador, está focado no segmento dele, o que está absolutamente correto, afinal ele precisa entender dos produtos e serviços que ele executa, porém tem forte necessidade de alguém para contribuir na gestão do negócio, dizendo se está indo bem ou mal, está dando lucro ou não, se está com riscos da operação controlados.  Isso quer dizer que o empresário tem tudo para se apoiar cada dia mais no profissional contábil que tanto conhece a empresa dele.   Para que isso aconteça, no entanto, o contabilista precisa se reposicionar, precisa estar consciente que ele tem que ser muito mais consultor, gestor, analista de negócio, do que um profissional para atender o fisco.  O contador precisa focar sua atenção no cliente e não apenas no fisco, precisa ir mais a congressos de gestão empresarial, ler mais livros e artigos que o nutram de informação para subsidiar seus clientes de forma expressiva, facilitando assim a tomada de decisão.  Tenho tido contato com muitos contadores que já se reposicionaram, que possuem uma bagagem de gestão invejável, que podem contribuir de forma significativa para o crescimento dos seus respectivos clientes, contudo, nem todos os empresários perceberam que podem, e devem, contratar este contabilista para fazer outros serviços até hoje não compreendidos como sendo da alçada deste profissional.
 
O EMPRESÁRIO
As empresas estão se organizando com muito mais profundidade do que no passado, pois o volume de exigências legais está forçando não apenas a queda abrupta da informalidade, mas, essencialmente, fazendo com que o empresário perceba que a empresa de sucesso no futuro será aquela que atender com mais velocidade às necessidades dos clientes - e para que isso aconteça é de suma importância que saiba o que está acontecendo na companhia, que margem está tendo, que linha de produtos é mais eficiente, que regime de tributação é mais adequada para o negócio, que limite de endividamento é ideal para a empresa, que recursos de financiamento público ou privado pode contribuir em certos projetos de expansão.  Enfim, o empresário está diante de um cenário mais complexo, porém de maiores oportunidades.  E para conseguir aproveita-las, certamente precisará que alguém o ajude num território que ele não domina; precisará que o seu contador seja o grande apoio na tomada de decisões;  necessitará que o contabilista esteja presente em  diferentes momentos de  decisão muito mais do que no passado, o que é excelente para o empresário e para o profissional contábil.
 
Em meus quase 30 anos de experiência na construção de software contábil e de gestão eu nunca vi a presença de tantos profissionais contábeis em reuniões de decisões como estou vendo atualmente.  Antigamente as minhas reuniões eram separadas, os contadores queriam coisas específicas para o seu trabalho, tinham uma necessidade que era muito particular da sua profissão.  Os empresários queriam reuniões comigo para discutir estratégia, debater quais seriam os passos para o futuro, levar necessidades de informações nos sistemas para a tomada de decisão.  O Empresário e o Contador pareciam estar em mundos diferentes, mas hoje o quadro é completamente distinto.  A Alterdata, inclusive, tem recebido demandas de alguns escritórios de contabilidade para que faça palestras de negócios para os seus clientes, algo inédito e de muita visão de alguns profissionais contábeis, considerando que hoje estes dois mundos estão juntos em fazer a empresa ser melhor, mais lucrativa, mais eficiente e não apenas atender às exigências do fisco.  Atualmente, em muitas reuniões sobre necessidades da empresa, o contador está presente dando ideias, discutindo conteúdos puramente estratégicos e não apenas tributários e fiscais. Em suma, as empresas que ainda não perceberam o valor de ter um contador por perto estão perdendo competitividade para seus concorrentes.
 
Sendo assim, acho muito importante que os empresários valorizem muito mais a presença do seu contador nas reuniões de negócio, sendo de suma importância que os contadores valorizem muito mais estar junto aos clientes e não apenas dentro de seus escritórios.  Acho que a relação entre o Contador e seu Cliente precisa ser fortemente discutida para que ambos possam contribuir de forma mais expressiva para a melhoria da empresa.  Creio que a softhouse, como responsável pela criação dos sistemas de gestão de ambos, pode ajudar neste sentido, sendo um elo importante de trânsito de informações, e para isso a Alterdata vem trabalhando pesado em um série de ferramentas que estarão disponíveis em pouco tempo para que estes dois mundos estejam mais e mais integrados.  Entretanto, a tecnologia não fará tudo, eis que a essência neste momento é a mudança de cultura tanto do empresariado como dos contabilistas.
 
Apesar da oportunidade para ambos os lados, tenho discutido com grupos de contadores e empresários sobre o assunto abordado neste artigo, e tenho sugerido algo que merece ser comentado neste momento, pois acredito que contadores e empresários sejam profissionais muito distintos.  Os contadores são técnicos muito matemáticos e os empresários são empreendedores, nem sempre tão matemáticos assim.  Desta forma, percebi que todas as vezes que o contador envia informações para o empresário no formato que é tradicional na contabilidade, o administrador da empresa não entende e não se interessa.  Pois enviar um relatório com Índice de Liquidez Corrente, Liquidez Seca e outros, não quer dizer muita coisa se não forem traduzidos para a linguagem comum e não contábil. Logo, é importante falar a língua de quem é o foco do negócio, que é o empresário.  Por isso mesmo, sugiro que os contadores ajustem os seus relatórios para não serem apenas números soltos, mas que venham acompanhados de comentários, comparações com outras empresas, exemplos e dicas do que fazer para melhorar, bem como o impacto de um indicador no outro, deixando claro que a análise em conjunto dos indicadores é o que fará a grande diferença para se compreender corretamente o que acontece no negócio.
 
O CRC (Conselho Regional de Contabilidade) declarou 2013 o ano da contabilidade, e acho que estão absolutamente corretos, pois é o grande momento da profissão.  Estas mudanças farão alguns desistirem, pois será necessário estudar mais, outros ficarão onde estão, e haverá chances de desaparecer, mas certamente a grande maioria se reposicionará, não desistirá de avançar e com isso colherá excelentes frutos.  Segundo Norman Vincent Piale, notável escritor norteamericano: “O covarde nunca tenta, o fracassado nunca termina e o vencedor nunca desiste”.  
 
O momento é ímpar para a classe contábil e fundamental para o empresariado.   Eis aí um casamento que tem tudo para ser mais e mais duradouro. Sugiro, portanto, que confie no seu contador:  ele pode ajudar a transformar o seu negócio.


Ladmir Carvalho
Diretor Executivo - Alterdata Software