Não falta literatura sobre as habilidades que o líder deve ter para conseguir comandar solidamente uma equipe, porém nada melhor do que ter acesso ao resultado de uma pesquisa de cinco anos com 90 líderes top de linha para entender o que realmente eles possuem de diferente para fazer a magia acontecer.
Entender como pessoas de sucesso se comportam, como agem, como influenciam, como se movimentam pode ajudar a compreender porque logramos ou não êxito, permitindo que façamos os necessários ajustes em nossa carreira.
Como fundador de uma empresa de software que em julho de 2013 contava com aproximadamente 1.000 funcionários, interesso-me muito pelo assunto liderança, de vez que isso é importante, não apenas para mim, como um dos principais executivos da Alterdata Software, mas essencialmente para todos os demais líderes da companhia, sejam estes diretores, gerentes, supervisores, consultores, analistas de negócio, enfim, todos que comandam pessoas.
Recentemente, revendo matérias a respeito de liderança encontrei um estudo feito por Warren Bennis mostrando o resultado de uma pesquisa de cinco anos com 90 líderes dos setores público e privado nos EUA. Objetivo: elencar os pontos convergentes entre estes profissionais de sucesso. No começo, diz Bennis, saltaram aos olhos mais diferenças do que semelhanças. Havia pessoas no grupo que usavam mais um ou outro lado do cérebro, gente que se vestia para impressionar ou não fazia isso, líderes falantes ou lacônicos; e outros completamente opostos. A propósito, o grupo tinha, inclusive, poucos líderes carismáticos. Mas o pesquisador acabou encontrando várias capacidades comuns à maioria dos líderes ou a todos eles, sendo quatro as realmente essenciais: capacidade de atrair a atenção; de dar significado às coisas; de inspirar confiança; e de ter autocontrole. Conseguiu também identificar que os bons líderes transferem poderes, responsabilidade e autonomia a seus subordinados, aumentando a motivação sem precisar instituir um sistema de prêmios e castigos.
A pesquisa também conclui que os subordinados destes líderes esperam deles: Direção, Visão, Integridade (alguém em que possam confiar) e Otimismo.
A intenção deste estudo era encontrar líderes verdadeiros e não bons administradores. Líderes mexem com a cultura de uma empresa, são arquitetos sociais de suas organizações, criam e mantêm valores sólidos. Líderes fazem as coisas certas, enquanto administradores fazem as coisas corretamente. Ambas são funções cruciais e diferem profundamente. Um dos grandes problemas das organizações é que são lideradas de menos e gerenciadas de mais. O sistema educacional tem nisso parte da culpa, pois ensina os novos profissionais a serem bons técnicos, mas não os ensina a serem líderes excelentes. Dentro da Alterdata, empresa que dirijo, existem gerentes que são excelentes administradores, mas que nem sempre são inspiradores de seus subordinados, dificultando que novas lideranças emerjam. Por outro lado, também existem gerentes que todos admiram, querem seguir, desejam ser iguais, eis que são modelos para suas equipes, tornando a respectiva liderança mais eficaz.
Depois de vários anos de observação e entrevistas, o pesquisador conseguiu chegar a quatro elementos fundamentais:
1) CAPACIDADE DE ATRAIR A ATENÇÃO
Entre as características mais evidentes dos líderes que fizeram parte desta amostra encontra-se a habilidade de persuadir pessoas, por terem eles uma visão, um sonho, um conjunto de intenções, um significado. Sua extraordinária energia de concentração em um compromisso atrai as pessoas. Possuem algo que fazem as pessoas desejarem unir-se a eles, porque compartilham sua visão. Os líderes gerenciam a atenção por meio de uma visão persuasiva que leva as pessoas a almejarem vivenciar uma determinada situação.
É importante que se compreenda que a mencionada visão não tem relação com algo místico ou religioso, mas completamente voltado para um resultado, um objetivo ou uma direção.
Nos meus quase 30 anos de experiência desenvolvendo softwares para líderes, percebo que esta capacidade de movimentar o coração das pessoas precisa ser algo suave, natural e transparente. A liderança verdadeira é admirada e não imposta. O líder admirado está junto com a sua equipe nos momentos mais difíceis e sempre faz questão de demonstrar a todos como pensa. O líder precisa demonstrar o caminho para sua equipe, não pode se esconder atrás das decisões, e deve deixar claro porque está assim decidindo ou tomando este rumo.
Uma das sugestões para potencializar esta capacidade é o líder fazer trimestralmente reuniões abertas de resultados na empresa, nas quais o próprio líder apresenta os principais indicadores da organização, deixando claro o que está indo bem e o que está indo mal, apontando setores e pessoas que precisam melhorar para que tudo fique mais harmônico, permitindo, destarte, que todos compartilhem a sua visão.
O líder de verdade não atrai a atenção por ser um marqueteiro, mas por ser admirado por sua força de trabalho, visão e propósito nas suas ações. O líder propagandista em excesso tem, por conseguinte, vida curta.
2) CAPACIDADE DE DAR SIGNIFICADO ÀS COISAS
A meta do líder não é meramente explicar ou esclarecer algo, mas sim, criar um significado. Quanto mais extensa e complexa a organização, mais crucial é essa habilidade. Líderes eficazes podem transmitir ideias através de vários níveis da empresa e a grandes distâncias, e até mesmo vencer o “ruído” de grupos de interesse e opositores.
Para tornar os sonhos visíveis e levar as pessoas a aderir a eles, o líder deve transmitir sua visão, o que melhor se consegue quando se utilizam metáforas, uma palavra ou um modelo para tornar visível e tangível o que ainda é um sonho. Líderes transformam fatos, conceitos e relatos em significado.
A capacidade de gerenciar a atenção e o significado é parte da constituição do líder. Não é suficiente usar frases de efeito e técnicas perspicazes, ou ainda contratar um relações públicas para redigir discursos: o líder verdadeiro faz tudo isso com o coração, acreditando, arrastando um exército no mesmo propósito, e não apenas falando e não fazendo.
Dentro da Alterdata costumo dizer para minha equipe que não somos uma empresa de construção de software, somos uma companhia que torna as empresas dos clientes mais lucrativas e mais eficientes, de tal sorte que as mesmas tenham mais longevidade. Se conseguirmos fazer os nossos clientes quebrarem menos, irem mais longe, estaremos fazendo o Brasil crescer, contribuindo para o nosso país competir com os melhores do mundo.
Um hospital não está ganhando dinheiro com a medicina, está salvando vidas.
Uma construtora não está fazendo pontes e estradas, está contribuindo para o país crescer, gerar mais empregos, sermos melhores como nação.
Todas as empresas possuem uma significação; o importante é o líder ter a capacidade de deixar claro para todos a razão dos sonhos.
3) CAPACIDADE DE INSPIRAR CONFIANÇA
A confiança é essencial para todas as organizações e tem como determinante principal o que se denomina “constância”. Quando foram entrevistados os subordinados dos líderes da pesquisa referenciada, ouviram-se algumas frases como estas: “meu chefe é muito consistente”, ou, “goste ou não, você sempre sabe de onde ele está vindo, para onde vai e que posições defende”. O estudo demonstrou ainda que as pessoas estão mais propensas a seguir indivíduos nos quais elas confiam - mesmo discordando de seus pontos de vista -, do que seguir indivíduos com os quais concordam, mas que mudam de posição frequentemente.
O líder precisa ter posições sobre os rumos da companhia, precisa deixar claro para todos estas posições, bem como fazer o que fala, ou seja, ser coerente. O líder precisa ser uma pessoa que ouve, deixando as pessoas darem suas opiniões. Quando o líder inspira confiança, a equipe se sente à vontade para falar o que pensa, e aí, sim, passam a colaborar.
Uma dica importante para o líder é estar o tempo inteiro observando se as pessoas estão realmente falando o que pensam. É fundamental criar mecanismos que lhe permitam entender a forma de pensar de todos, como pesquisas de satisfação identificadas e não identificadas. Ademais, participar pessoalmente de reuniões possibilita perceber a forma de pensar e os valores de todos. O líder não pode confiar que falará e todos lhe seguirão - o processo é mais complexo do que isso -, mas tudo fica mais fácil quando há confiança.
O líder que quer enganar o cliente, está passando à sua equipe uma mensagem que não é confiável. Similarmente, o líder que não se importa com parte da equipe deixa transparecer que pode também não se importar com o restante do time. E o líder que concorda em conquistar mercados de forma escusa evidencia não ser honesto no sentido mais amplo da palavra. Daí resulta necessariamente que confiança se passa nos detalhes e não nos grandes discursos.
4) CAPACIDADE DE TER AUTOCONTROLE
Gerenciar a si mesmo – competência crucial – é conhecer as próprias capacidades e empregá-las com eficácia. Os líderes de verdade conhecem a si mesmos e aprimoram seus pontos fortes, e isso é percebido por todos. Possuem uma capacidade incrível de assumir riscos com a aceitação de que podem falhar, não se acham melhores do que os outros, da mesma forma que possuem serenidade para resolver questões complexas.
Alguns presidentes de empresa acreditam que uma das maiores habilidades do líder é cometer o maior número de erros o mais cedo possível e, então, tirá-los do caminho.
Esta capacidade de autocontrole precisa ser notada pelo grupo, as pessoas precisam perceber que o líder está se aprimorando o tempo inteiro, que é a pessoa à qual podem recorrer para encontrar solução para um dado problema, uma vez que, se este não souber o que dizer, mostrará isso, e se movimentará para resolver a questão, seja por adquirir a ciência da coisa, seja por convocar um especialista no assunto.
Uma dica pessoal que dou é que o líder seja muito observador de si e dos outros. É fundamental que o líder tenha uma lista das suas principais fraquezas por escrito, para que possa corrigi-las gradativamente. Para montar esta lista basta observar o que são limitadores na hora da tomada de decisão. Do mesmo modo, convivendo-se com pessoal de nível mais alto ter-se-á um referencial mais elevado a ser seguido. Não menos importante, ler literatura pertinente à gestão do negócio permitir-lhe-á perceber habilidades que ainda não possui.
Enfim, este artigo tem a intenção de projetar alguma luz sobre quatro elementos convergentes dos líderes de que trata esta pesquisa, focalizando as capacidades que precisam ser adquiridas ou potencializadas para que a magia de comandar pessoas tenha mais sucesso. Se você é um gerente ou pretende ser, se você é um empresário ou pretende ser, tenha a certeza que seu comportamento será mais importante na sua carreira do que seu conhecimento técnico. O conhecimento técnico é muito importante para levá-lo até um certo ponto, porém o que o distinguirá dos demais profissionais com conhecimento idêntico será a sua habilidade em liderar. Consequentemente, leia mais sobre o assunto, mesmo porque este tipo de aprendizado é contínuo... Se tiver dificuldades de caminhar sozinho neste terreno, contrate um Couch.
Por mais competente que um profissional seja tecnicamente, ele só conseguirá ser um comandante eficaz com capacidades como as acima delineadas, passíveis de serem adquiridas, ou seja: não necessariamente precisam ser parte integrante do DNA deste profissional.
Ladmir Carvalho
Diretor Executivo - Alterdata Software