O crescimento de uma empresa passa essencialmente pela delegação de tarefas entre as pessoas que trabalham na organização. Sem este instrumento de gestão os líderes ficariam sobrecarregados sem a possibilidade de assumirem responsabilidades maiores.
Contudo, o processo de delegação nem sempre acontece de forma eficaz por problemas de ambos os lados, não apenas o líder tem dificuldades em passar o comando como o subordinado vê problemas em entender exatamente os limites do poder que está recebendo.
A competência de um funcionário apoia-se no conhecimento técnico, nas habilidades humanas e na forma de desempenho da função. O desempenho depende intrinsecamente da competência, mas só se explicita de forma eficaz pela preexistência de condições motivadoras pelo ambiente da empresa. Não pode ser o líder um autocrata que possua competências brilhantes e as transforme em infecundas. Cabe ao líder ser o gerador do conhecimento, o educador contumaz, o instrutor para o crescimento das pessoas. A forma mais inteligente de realizar estes papéis é através de delegação com monitoramento sistemático.
Contudo, em muitos casos, o líder tem uma baixa autoestima, tem a impressão que o centro do seu poder passa pelo seu conhecimento técnico de determinado assunto, enquanto na verdade o grande líder é aquele que não conhece todos os assuntos, mas tem a capacidade de comandar pessoas melhores do que ele em certos assuntos. A delegação em primeiro plano passa por um processo psicológico de transferir algo que o líder acha que é ele próprio.
Para exemplificar usarei o meu exemplo pessoal. Quando eu tinha meus 25 anos era um programador de computador eficaz, com muitos clientes que me achavam inteligente e trabalhador, a minha função e tarefas me tornavam quem eu era, eram parte de mim, me faziam ser elogiado pelos clientes, me elevavam a autoestima, ou seja, eram eu mesmo. Quando fundei a Alterdata em 1989, empresa de software que comando, comecei a perceber que para crescer eu precisava delegar as coisas que eu sabia fazer, porém estas coisas eram parte de mim e deixar que outros assumissem este papel seria como, psicologicamente, eu estivesse deixando de ser o que me tornava bom, eficaz e digno de elogios. Isso não foi fácil para mim como certamente não é para todos os líderes.
Porém, com muitas reflexões percebi que a delegação era fundamental para que a empresa crescesse, era muito importante que eu tivesse tempo para assumir outros papéis, e que na verdade a essência do meu trabalho não era a execução de certas coisas em algumas épocas da empresa, mas sim a minha capacidade de mobilização de grandes profissionais que estariam trabalhando comigo no formato que eu julgava necessário, no padrão de qualidade que eu presumia importante, na velocidade que eu tinha como fundamental, com os procedimentos que eu achava úteis para o monitoramento.
Sendo assim, o líder precisa entender que tem basicamente quatro grandes metas na empresa:
1) Traçar objetivos;
2) Criar condições para realização;
3) Estimular a obtenção de resultados através da equipe;
4) Avaliar os resultados.
Desta forma, o líder precisa delegar para crescer, ensinar a equipe a pensar e não apenas a receber comandos. Ao ser transferida uma tarefa para o subordinado é importante e fundamental que a comunicação seja eficaz no que tange aos motivos e valores para a organização, não se deve delegar algo sem que o subordinado entenda exatamente o “porque”, pois a pior delegação é aquela que transfere apenas o “faça”. É importante “autorizar” e não “providenciar”, são coisas distintas de grande impacto no processo de delegação.
É importante dois elementos não serem esquecidos jamais na delegação:
1) Cada responsabilidade corresponde poderes e deveres;
2) A delegação não exclui a responsabilidade do líder que delegou.
O líder deve ter a consciência que a delegação não o exclui dos possíveis erros que o subordinado causará, o liderado precisa ter a certeza de que o superior é um apoio, e para criar este ambiente o ideal é usar as ferramentas de monitoramento sistemático. Ou seja, delegar algo e monitorar por período curto, uma vez por dia se for grave ou uma vez por semana, se este tempo for razoável para identificar possíveis distorções, tornando a comunicação entre os dois polos bastante intensa. Em cada ponto de monitoramento o líder deve criticar e orientar o subordinado, observando sempre se ele tem as condições e ambiente para fazer uso do poder. Na medida que o superior for adquirindo confiança no liderado, quanto a tarefa delegada, deve ir aumentando o intervalo de monitoramento, até que transfira completamente o poder. Esta medida fará o liderado se sentir confiante por estar sendo acompanhado e fará com que o líder tenha a certeza que as coisas estão caminhando dentro do esperado por ele, uma vez que está treinando e capacitando o subordinado. Com isso, ambos estarão exercendo os elementos básicos da delegação: Aceitação da Responsabilidade; Transmissão a pessoa habilitada; Comunicação Perfeita; Existência de Condições para Execução da Tarefa; Acompanhamento do líder.
É importante salientar alguns cuidados que precisam existir para que tudo flua de forma macia e tranquila. Verifique sempre se o subordinado tem tempo para receber as novas atribuições, é relevante analisar antes da transferência do poder as condições de tempo e pressão que ele está neste momento. Deixe claro, muito claro sobre as responsabilidades desta tarefa e poder que está sendo delegado. É importante fazer o subordinado falar ou escrever a respeito para ter-se a certeza que entendeu a abrangência desta delegação. Um dos grandes erros é o líder transferir tarefa e não poder, ou seja, não deixa o subordinado errar para aprender, causando frustração no liderado e sobrecarga no superior, o líder precisa ser menos concentrador. Cuidado para não transferir a mesma tarefa para dois subordinados, causando grande confusão por não haver uma definição clara da responsabilidade de cada um. Outro aspecto para se ter atenção é não transferir tarefa para subordinado de outro líder, pois isso pode trazer sérios problemas políticos e operacionais na companhia. O que se deve delegar são tarefas essenciais para libera-lo para crescer, mas muitos líderes transferem apenas o que não gosta de fazer, o que nem sempre é bom para a empresa.
O fato é ter a certeza que é o processo de delegação que faz uma empresa ser forte e grande. Empresas que nascem com um líder técnico muito eficaz que não delega, não cresce.
Ladmir Carvalho
Diretor Executivo - Alterdata Software