O ser humano em geral é um ser que nasceu para ser desafiado: durante milhões de anos tivemos que correr para conquistar nossos objetivos, já na época das cavernas éramos desafiados para conseguir alimentos, fugir dos predadores, procriar dar continuidade à espécie, enfim, não podíamos ficar parados.
Quando os desafios não existem perdemos o nosso brilho natural, e isso não acontece apenas conosco, mas com outros animais também, existindo uma correlação com certos fenômenos da natureza.
Os japoneses sempre gostaram de peixe fresco. Contudo, as águas perto do Japão não produzem mais peixes há bastante tempo. Desta forma, para conseguir abastecer a população do país os japoneses começaram a fabricar navios pesqueiros maiores para que pudessem ir a grandes distâncias. Quanto mais distante os navios iam, mais demoravam para retornar com os peixes, e se demorassem mais do que alguns dias, o peixe já não era fresco, o que desagradava violentamente os consumidores, uma vez que eles gostam apenas do sabor dos peixes frescos. Para resolver o problema as empresas pesqueiras instalaram frigoríficos em seus navios, que congelavam os peixes assim que eram pescados, permitindo que as embarcações fossem mais e mais distante em alto mar. Entretanto os japoneses conseguiam distinguir entre o peixe fresco e o congelado, e não gostavam do peixe que tinha passado pelo frigorífico. Mais uma vez as empresas de pesca tentaram resolver o problema: instalaram nos navios grandes aquários em que iam colocando os peixes vivos à medida que eram pescados, lotando os tanques até não caber mais, assim fazendo com que os peixes retornassem vivos em aquários superlotados onde não conseguiam mais nadar por falta de espaço, chegando, portanto, cansados e abatidos, embora vivos. Infelizmente os japoneses não gostavam do sabor destes peixes, pois em função de não se mexerem, não se exercitarem, os peixes perdiam o gosto do frescor. Os japoneses preferiam o gosto do peixe fresco e não do peixe apático.
Então como resolver este problema?
Quando estamos nadando em nossa vida profissional, estamos nos movimentando o tempo inteiro, estamos correndo atrás de objetivos e sonhos, o que nos torna um tipo de profissional muito alerta e dinâmico. Porém muitas vezes a vida nos coloca em aquários onde não precisamos nadar, onde não precisamos nos preocupar, onde não necessitamos nos esforçar para conseguir algo, e com isso nos tornamos profissionais apáticos, lentos e sem brilho. A maioria das pessoas que conquistam algo significativo, profissional ou pessoal, tende a se acomodar, como se não precisasse trabalhar mais com tanto empenho, uma questão psicológica que nos torna peixes lentos. É o mesmo problema de ganhadores da loteria que gastam todo o dinheiro que ganharam, o mesmo problema de herdeiros que nunca crescem e donas de casa entediadas, que ficam dependentes de remédios de tarja preta. Também acontece quando recebemos um cargo na empresa e após dominarmos as respectivas tarefas, passamos os nossos dias de forma mecânica e estável, não nos exigindo grande esforço diário, pois podemos fazer as mesmas coisas certas o tempo inteiro, tornando-nos assim tarefeiros lentos e previsíveis.
Segundo L. Ron Hubbard observou no começo dos anos 50: “O homem progride, estranhamente, somente em um ambiente desafiador”. Quanto mais inteligente, persistente e competitiva a pessoa for, mais gostará de resolver problemas. Se seus desafios são de proporção correta e você consegue, passo a passo, superá-los, a pessoa fica feliz. Ela pensa em seus desafios e fica mais feliz. Fica mais realizada em tentar novas soluções.
Os japoneses não pararam de pensar até resolver este problema mercadológico dos consumidores gostarem apenas dos peixes frescos, e chegaram a uma conclusão muito parecida com o mundo real dos humanos. Eles colocaram dentro do aquário, junto com os peixes, um pequeno tubarão. Este predador come alguns peixes, mas a maioria chega ao destino vivo, muito vivo, espertos e nadando rápido, e desta forma, muito frescos. Os peixes são desafiados, ficam com medo e o extinto os fazem ficar espertos. Com isso as empresas de pesca tornaram a ter seus peixes frescos, e com isso, os preços retornaram aos patamares anteriores.
Ter um tubarão no aquário é saudável. Desta forma o profissional de qualidade deve mergulhar no aquário que tenha um tubarão, deve estar ligado em ambientes muito competitivos, deve se colocar em situações desafiadoras na maior parte do tempo, o que o tornará muito mais preparado. O bom profissional não fica esperando alguém colocá-lo no aquário com o tubarão, mas sim obriga-se a estar o tempo inteiro sendo desafiado.
Se você é líder de um setor ou empresa, lembre-se que seus subordinados são seres humanos regidos por esta lei do tubarão, ou seja: se você não mantiver o grupo desafiado, tenderá a ter pessoas acomodadas e descansadas no seu grupo. Sendo assim, é importante que tenha metas e objetivos que façam todos ficarem velozes e alertas o tempo inteiro. E para que isso aconteça, não necessariamente é preciso usar a força ou a cobrança excessiva, não precisa tornar a empresa ou o setor em ambientes hostis, pois o fundamental é que todos se sintam cobrados sem se sentirem escravizados. Importa que todos sintam que há um lugar para chegar em determinado tempo.
Como diretor e fundador da Alterdata Software, tenho a oportunidade de conhecer e contribuir para melhoria de cerca de 30.000 clientes, empresas de todos os tamanhos e com todo o tipo de problema. O mais desagradável que vejo em alguns clientes são empresas apáticas, sem brilho, sem velocidade, e normalmente isso acontece porque o principal executivo se encontra nesta situação, com reflexo sobre todos da empresa. Vejo empresas onde a segunda geração, profissionais com aproximadamente 30 anos estão assumindo as empresas dos pais, que estão normalmente na casa dos 55, onde o conflito de velocidade e interesse é notório, passando até mesmo a complicar a relação e o desempenho da empresa. Certamente, tal acontece porque os mais idosos não querem mais um tubarão no aquário, mas os mais novos precisam deste tubarão para manter o ritmo.
Estamos vivendo uma era onde a velocidade da transformação rege o nosso tempo. Entramos o ano de 1900 praticamente com o mesmo meio de transporte que na época de Cristo, e antes de acabar o século o homem já tinha ido a lua, um avanço impressionante. O ideal é vermos esta velocidade com que as coisas acontecem como um grande tubarão em nosso aquário, fazendo-nos atentos a evoluir sempre, a mudar continuamente, a tentar prever ao máximo o que poderá acontecer à frente. Segundo Factor Gretzky, o impressionante jogador de hóquei: “O importante não é onde o disco está, mas sim para onde ele está indo”. O disco, do jogo de hóquei no gelo, é muito rápido, muda de direção o tempo inteiro, muito semelhante ao mercado de trabalho, às inovações, às mudanças do concorrente. Destarte é importante, além de fazer o hoje bem feito, tentar prever o amanhã com menos erros.
Sendo assim, uma boa forma de manter o tubarão sob controle é planejar o futuro, e não deixar que ele aconteça sem controle: você poderá agir distintamente dependendo do seu cargo na empresa:
EMPRESÁRIO: Pare uma tarde, pense na sua empresa. Comece refletindo qual o propósito da sua empresa. Se você tem uma Pet Shop, reflita se o objetivo é atender bichinhos e vender produtos, ou é tornar os donos dos animais mais felizes com a excelente saúde destes. Agora que definiu o motivo filosófico da sua empresa existir, pare e pense se as ações, rotinas, métodos aplicados estão de acordo com o propósito da empresa: você poderá se surpreender com rotinas que visam apenas o caixa e não a filosofia da companhia. Neste momento, pare e pense mais uma vez, analise se as pessoas que trabalham na empresa possuem os valores, as crenças, a ética para contribuírem para o propósito da firma. Agora pare e pense: analise se há um tubarão no seu aquário, se tem algo que o faz mover-se rapidamente, se tem um concorrente agressivo, se existe uma premência de mudar algo, se há uma ameaça ao seu negócio, se o seu mercado está mudando mais rápido do que a sua capacidade de se adaptar. Se existir este tubarão, ótimo, você correrá e será uma empresa diferenciada no mercado. Mas se você não estiver enxergando este tubarão, sugiro que contrate alguém para ajudá-lo a descobrir o(s) fator(es) que lhe colocará (ão) em desconforto.
GERENTE: Se você é um gerente ou líder de departamento precisa ter a noção que é muito importante que você coloque um tubarão no seu setor, que as metas e objetivos sejam desafiadores, que as pessoas percebam que uma empresa se faz com cada setor contribuindo para o todo. Se tudo estiver muito calmo no departamento é sinal que algo não está indo bem, pois a inovação e transformação contínua é o que garante o crescimento de todos na carreira, e o crescimento se faz com suor, dificuldade e desafio. O líder precisa estimular todos a contribuírem com a gestão e não apenas serem tarefeiros, segundo Gary Cohen, reconhecido jornalista esportivo nos EUA: “Os bons líderes não dizem a seus colaboradores o que tem que fazer: motivam-nos a agir com perguntas”. Isso quer dizer que gerar questões polêmicas faz parte de manter todos em movimento, nadando forte para não serem engolidos pelo tubarão chamado “mudança”.
Já escutei de alguns funcionários de clientes algo como: “Aqui na empresa é terrível, a cobrança por objetivos é muito pesada, o líder fica medindo a empresa inteira, de tal forma que temos que estar aprendendo o tempo todo”. Normalmente esta é o tipo de empresa que ficará viva por dezenas e dezenas de anos... Esta é a empresa que mais abre oportunidades para todos subirem na carreira e quase sempre é a empresa que mais suporta as marolas do mercado em que está inserida. Todo segmento de mercado tem momentos bons e ruins, a empresa que mantém o ritmo forte e contínuo nos dois momentos é a que mais tem destaque. Existem empresas que quando estão no momento bom, sem o tubarão, levam as coisas de forma superficial, sem cobranças, sem metas, sem objetivos claros, perdendo assim o foco e o momento de crescer de forma bem estruturada. O que acredito ser importante para o bom profissional é perceber que o ritmo de uma empresa precisa ser como se estivesse o tempo inteiro em crise, controlando os custos sempre, medindo os resultados todos os dias, fixando metas de longo e curto prazo para todos os setores da companhia, criando assim um jeito de ser, tendo uma pegada forte independentemente da situação em que esteja inserida.
Se você trabalha em uma empresa onde as coisas são muito fáceis por falta de cobrança, metas e objetivos, você tem uma oportunidade fantástica de crescimento. Comece você mesmo a colocar um tubarão no aquário, crie seus objetivos, estimule o seu líder a criar indicadores de desempenho de cada setor, fomente um ambiente veloz: não tenho dúvidas que você ganhará muito valor na empresa. Lembre-se, porém, que este processo de mudança é muito psicológico, tem a ver com persistência e hábitos regulares, então não adianta apenas falar, é importante praticar. Não se esqueça também que poderão haver gerações de idades muito diferentes, que precisam de estímulos distintos. Os integrantes da Geração Y, que estão com menos de 30 anos, gostam de desafios, fazem muitas coisas ao mesmo tempo, querem curtir o caminho mais do que sonhar com a chegada, enquanto as pessoas que estão com mais de 50 anos são mais estáveis, sonham com algo que lhes dê tranquilidade e estabilidade. Isso quer dizer que o tubarão no aquário terá efeitos diferentes para cada perfil de profissional, uma vez que estamos falando de motivações psicológicas.
Então pratiquemos: Sugiro que você, como líder, pegue este artigo, imprima e passe para todos da empresa lerem. Dê um ou dois dias para todos o façam e reflitam. Depois disso, marque uma reunião com todos, peça para elencarem quais são os tubarões que fazem com que eles corram, que se movam continuamente. Você observará que alguns não possuem algo visível que os cobre, o que não está correto. Para departamentos ainda, haverá tubarões imaginários, que estão apenas na cabeça de uma pessoa e não no departamento em que trabalha. Diga para todos que esta dinâmica tem como proposta criar um ambiente colaborativo, que todos ajudem a montar uma estrutura de cobrança mútua. Você verá comentários segundo os quais um setor não funciona bem porque depende do outro departamento, tentando assim trocar o tubarão de tanque, eximindo-se do desconforto. Verá pessoas que não possuem medo do ambiente veloz e mutável, e outros que acham estressante e cansativo estar estudando sempre. Enfim, você como líder, estará criando o que é mais importante para uma empresa: entender o seu time, saber mais detalhes das pessoas, e ainda ter a chance de ser o tubarão no aquário de cada setor, visto que a presença do líder envolvido, criando objetivos e metas, faz todos se mexerem, crescerem e se aprimorarem.
Pare e pense: a sua empresa funcionará melhor com um tubarão no aquário.
Ladmir Carvalho
Diretor Executivo - Alterdata Software