Alinhamento de Gestão para ganhar hegemonia

Uma empresa é composta de várias pessoas que têm poder de decisão diferente e que vêm como prioridade coisas distintas baseadas nos valores que este possui, bem como nas visões que percebe de determinada situação. Todos são aspectos ligados ao plano pessoal, uma vez que estamos falando de elementos subjetivos, interpretativos de cada pessoa da empresa, merecendo assim uma metodologia para lidar com a situação.

Contudo, para uma empresa não é interessante que os valores sejam pessoais e sim corporativos, para que a companhia seja um conjunto de pessoas pensando muito parecido, de tal maneira que estes valores corporativos estejam à frente dos valores individuais, que a forma de decidir seja semelhante, que o estilo de priorizar tarefas seja homogêneo.

Remadores olímpicos ganham uma prova não pela força ou brilho de um elemento, mas pelo alinhamento e cadência de todos os elementos, exatamente como funciona em uma empresa, pois a força dela está na forma homogênea de pensar, de agir e de decidir pelo grupo inteiro. Um único líder eficiente não faz uma empresa vencedora.

Bonito de falar, mas como fazer uma empresa que tenha 10 ou 10.000 funcionários trabalharem alinhados com princípios que farão todos terem a mesma forma de interpretação dos problemas ?

A essência está no topo da pirâmide hierárquica se envolver diretamente em passar cultura para todos, fazendo reuniões de grupos de líderes para debater determinadas decisões tomadas, para analisarem em conjunto situações pontuais do grau de responsabilidade de cada líder, para decidirem juntos como passar certas mensagens e instruções para os respectivos liderados. É muito importante que os principais executivos da empresa tenham a certeza de que o alinhamento partirá dele próprio, que as pessoas precisam saber o que este executivo espera de cada um, e isso só é possível com um processo de comunicação eficiente de cima para baixo na hierarquia.

Na minha função de fundador da Alterdata Software tenho contato com empresários grandes e pequenos de inúmeros segmentos diferentes e muitas vezes já escutei o principal homem da empresa reclamar muito de seus subordinados sem perceber que, na verdade, a equipe está perdida, solta, sem rumo por este mesmo executivo não ter contato direto com cada um para discutir assuntos de “como tomar uma decisão em determinado momento”. Se este alinhamento não existe, cada gerente encontrará a sua forma de interpretar os problemas e a maneira de resolvê-los, que nem sempre está alinhada com os princípios e valores da companhia.

O principal executivo ou dono da empresa precisa ter a certeza que por mais competentes que seus gerentes sejam, eles possuem formas distintas de analisarem e gerarem ações, não cabendo crítica a cada um sem a confiança que possuem todas as informações para tomarem as decisões baseadas na forma de pensar do topo da hierarquia.

Desta forma, sugiro algumas ações que podem mudar este quadro:

1) Realizar reuniões quinzenais com todos os líderes, ou se a empresa for muito grande com os principais líderes, para que se discutam situações reais, concretas, recentes, de necessidade de tomadas de decisões fortes. Deve ser uma reunião de 1h30min de duração aproximadamente, e completamente focada em casos reais, não sendo muito teórica. O principal executivo da empresa deve estar neste grupo para que todos entendam a forma de pensar e agir do mesmo. Neste momento, assim que um dos líderes apresentar um caso, o executivo não deve dar as decisões imediatamente, mas sim fazer todo o grupo pensar junto na melhor decisão focada nos valores únicos da companhia. Se todos não estiverem chegando ao ponto que o executivo deseja, este deve intervir para dar a sua visão, criando assim o alinhamento;

2) É importante que todos os líderes tenham uma lista atualizada das principais prioridades do seu departamento, que deve estar classificada em ordem de urgência. O executivo deve com esporadicidade analisar esta lista para saber se o gerente está priorizando certo, ou seja, se está dando preferência com os valores e princípios da empresa que realmente fazem diferença. É possível que um determinado gerente não esteja alinhado, não saiba para onde a empresa está indo, e desta forma prioriza suas ações de uma forma que não contribuirá para a companhia como um todo;

3) O executivo deve deixar as pessoas decidirem. Psicologicamente todos aprendem com os acertos e erros. Sendo assim, uma grande falha dos líderes é não permitir que os liderados tomem decisões para evitar riscos. Ao mesmo tempo em que o líder concentra as principais decisões em si próprio, cria um grande problema para o crescimento, pois os liderados que um dia serão comandantes não estão sendo formados para realmente serem solucionadores de problemas, mas apenas mensageiros de problemas;

4) O executivo e os principais líderes devem ter um tempo na agenda destinado a ter contato direto com os subordinados, devem indagar diretamente sobre o andamento dos planos de ação do setor, para neste momento se aproximar da forma que este liderado está agindo frente às situações que acontecem no dia-a-dia. Quanto mais alto na hierarquia da empresa estiver mais tempo o líder deve ter destinado a gestão e menos tempo focado no operacional. Se o líder realizar tarefas operacionais em excesso não terá tempo para alinhar a sua equipe. E para aumentar este tempo de gestão deve delegar as tarefas operacionais para os subordinados gradativamente;

5) É importante que o executivo/dono não permita que os líderes abaixo dele na hierarquia trabalhem sem métodos específicos de gestão, ou seja, práticas que sejam realizadas pelos demais líderes. É muito cômodo para um empresário, contratar alguém para certo cargo de comando e deixar esta pessoa solta, pois afinal ela foi contratada para isso. Porém, o fato de cada líder trabalhar da forma que melhor acredita ser a ideal trás o desalinhamento nocivo ao crescimento. O ideal é permitir experimentos de metodologias por setor, mas assim que for comprovado o sucesso, que este padrão de gestão seja levado para os demais líderes, tornando-se assim algo da empresa, e não mais de determinado gestor.

Sendo assim, a mensagem central é “ter contato regular com os líderes para alinhar os valores decisórios e relevantes para a empresa”


Ladmir Carvalho
Diretor Executivo - Alterdata Software