A importância do colaborar eficaz

No mundo da gestão empresarial muito se fala sobre a importância do líder eficaz, do líder 5.0, do líder que inspira, mas pouco se fala que este líder de hoje foi outrora subordinado de alguém e que para chegar onde chegou, teve que ser um colaborador eficaz, acima da média, com um padrão de desempenho além do normal. A maioria das pessoas parece achar que os empresários de sucesso, os executivos de destaque, os gerentes top de linha são pessoas que nasceram tais, o que não corresponde à verdade.
 
Fundei a Alterdata Software em 1989 quando ainda tinha meus 25 anos. Naquela altura, eu não era senão um programador “free lancer” que desenvolvia sistemas específicos para diversas empresas. No entanto, já observava o comportamento dos funcionários dos clientes, reparando naqueles que tinham certas atitudes e envolvimentos que davam certo, bem como em outros que agiam de forma tal que não alcançavam o que desejavam, evidentemente porque o futuro de um profissional é o corolário das ações e comportamentos do presente.
 
Sendo assim, temos que dar consideração a tudo o que é importante, tanto na fase em que ainda somos um modesto colaborador iniciante na empresa, como quando, mediante promoções, logramos ascender na hierarquia, sendo estas etapas sucessivos degraus que demandam esforço e habilidades específicas para sua conquista. Porém, antes, e acima de tudo, exigirá conhecimento, que precisamos sempre melhorar.
 
Há pouco tempo, conversando com um importante cliente, ouvi-o dizer que estava com um problema sério na empresa dele:  numa fábrica com cerca de 40 anos de vida onde muitos dos atuais gerentes são pessoas muito antigas na empresa, que cresceram junto com a organização e são excelentes técnicos, estes simplesmente não se mostram aptos a liderar um setor, departamento ou filial. E adicionou um comentário significativo ao dizer: “Eles são bons profissionais nas funções erradas”.
 
Este tipo de situação acontece porque estes mesmos profissionais pareciam não compreender que para ocupar degrau superior da hierarquia empresarial, precisariam saber algo mais, além do que sabiam no cargo anterior; que precisariam ser eficazes nestas novas funções, o que neste caso em especial não acontecia. Ser um bom vendedor não quer dizer que ele daria um bom gerente comercial; ser bom engenheiro não significa ser bom gerente de fábrica; ser um bom economista não é o mesmo que ser um bom gerente financeiro.  Enfim, trata-se de coisas inteiramente distintas, mas que podem ser aprendidas se, e quando, o colaborador entender o que é ser eficaz no cargo que ocupa naquele momento.
 
De tal modo que, ser eficaz implica em o seu líder poder confiar que você realizará no prazo determinado, com o custo esperado e com impacto controlado nos clientes (internos ou externos) o que lhe foi incumbido. Algo assim parece simples se nada de errado sobrevier no curso da execução de um projeto. Sempre que um profissional recebe uma tarefa ou objetivo, haverá uma série de ações a realizar que, levadas à prática, permitirão concluir o que se pretendia. Todavia, quando algo der errado - e pode acreditar que dará -, a forma de lidar com estas adversidades, sem contudo perder o foco, é o que essencialmente distinguirá o colaborador eficaz do mero tarefeiro. O colaborador mediano justifica o atraso e a perda do cronograma pelos imprevistos que aconteceram; o colaborador eficaz, por seu turno, sabe que algum problema acontecerá, e ainda que não consiga prever exatamente o que poderá suceder, gerará ações de correção de curso que o farão atingir o objetivo independente de eventuais percalços.
 
Tenha em mente que quando seu líder lhe designar uma tarefa a ser executada ele não quer que você tão-somente a execute: ele desejará que você resolva um problema preexistente. Observe que se trata de noções muito diferentes uma da outra e que precisam ser bem compreendidas. Por exemplo, quando um líder solicita à equipe de manutenção varrer o auditório da empresa, ele está na verdade passando a missão de manter o auditório limpo - e não apenas varrer. Quando o líder dá ao motorista do caminhão da empresa a missão de conduzir o veículo de entrega da companhia até a casa do cliente, ele comunica a este profissional a missão de realizar o desejo do cliente de ter a mercadoria que comprou - e o motorista terá que imbuir-se desta ideia e de tudo o que nela se acha envolvido. O colaborador eficaz consegue perceber com mais clareza a missão por trás da tarefa, com isso ficando mais fácil corrigir problemas quando as adversidades se apresentam.  Se o caminhão quebrar, o motorista entenderá claramente que não conseguirá atingir o sonho do cliente; se no auditório houver uma teia de aranha no teto, a pessoa da manutenção compreenderá prontamente que varrer o chão é um detalhe do todo, que é manter o auditório esmeradamente limpo.  Esta forma de enxergar muda todo o comportamento do colaborador, fazendo que ele seja percebido pelo superior como peça fundamental na engrenagem da companhia.
 
Destarte, existe clara distinção entre ser Eficiente e Eficaz. Não se há de confundir “Eficiência” com “Eficácia”. No primeiro caso, “eficiência” consiste na qualidade do que é eficiente, do que tem a capacidade de desempenhar,  realizar, de produzir.  No segundo caso, “eficácia” refere-se à qualidade de ser eficaz, vale dizer, à força ou virtude  de produzir efeito. Os conceitos parecem iguais, mas só parecem.  Na prática percebemos perfeitamente as diferenças, as nuanças. Um funcionário eficiente faz as coisas de maneira correta, desempenha as atividades com foco na produção, realiza as tarefas conforme manuais de procedimentos. O colaborador eficaz, todavia, além de reunir as qualidades próprias da eficiência, manifesta a firme disposição de trazer os resultados desejados de forma mais produtiva e objetiva.  Em resumo, o colaborador eficaz faz as coisas certas dentro de uma atmosfera de perfeita compreensão. Eis aí a grande diferença entre ambos. Afinal, podemos às vezes alcançar uma meta, despendendo, porém, esforço e recursos maiores do que seria estritamente necessário. 
 
Muitas pessoas acham que o profissional de destaque trabalha mais horas do que os demais, que faz mais horas extras, que dedica mais tempo à empresa, o que não é verdade. O profissional de qualidade é aquele que administra melhor o seu tempo para cristalizar os objetivos. Importa, por conseguinte, ser um controlador do tempo pessoal e do tempo de execução dos projetos em que estiver envolvido.  Se necessário, este profissional trabalhará além do horário para realizar, para fazer acontecer, eis que ele de fato coloca a meta como alvo.  Quando tenho um funcionário que quer fazer horas extras com frequência, não o vejo com bons olhos, vez que me passa a mensagem de que este profissional não administra bem suas tarefas; mas, por outro lado, quando vejo um profissional que não fica um dia fora do horário para resolver algo a fim de não comprometer um cronograma, vejo-o também com maus olhos, eis que, quando é preciso, o profissional eficaz aplica o esforço necessário.  Problemas de percurso acontecerão para todos, mas segundo Willian George Ward, renomado escritor inglês de 1850 em diante, “o pessimista queixa-se do vento, o otimista espera que ele mude e o realista ajusta as velas”.
 
De modo que já compreendemos que eficiência e eficácia são coisas distintas, já entendemos que é importante ser um bom administrador do tempo, já sabemos que tarefa é diferente de missão. Assim, pois, está na hora de parar de teorizar e passar à prática. Quando o líder lhe apontar uma tarefa, é fundamental que você saiba a missão que ela encerra. Caso não compreenda, pergunte ao líder, entenda o porquê das coisas, os motivos subjacentes, e após esta compreensão, atente, durante a execução, aos problemas que acontecerão ao longo do percurso: quanto mais sucesso você tiver em resolver a estes sem perder o foco, tanto mais eficaz você estará sendo. Lembre-se também do controle do tempo de cada etapa, exercendo-o, se necessário, dia após dia, de tal forma, que se perder o cronograma num dia, poderá recuperar o tempo no dia seguinte, não precisando, pois, ficar horas e mais horas fora do horário regular para cumprir dita tarefa.
 
Um bom exemplo é o que acontecia numa antiga fábrica de refrigerantes onde, os rótulos eram colados a mão nas garrafas por um grupo de funcionários. Lá havia um funcionário que todos os meses ganhava prêmios de produtividade por ser mais ágil colador de rótulos, até o dia em que a empresa resolveu certificar-se ISO 9000, e os auditores descobriram que o recordista de colagem tinha um problema de qualidade: colava a maioria dos rótulos tortos, ao passo que o funcionário que ficava classificado em segundo lugar, apesar de colar menos, colava com mais precisão no que tange ao alinhamento. Em vista disso, a empresa precisa entender que é necessário ter os dois conceitos muito bem definidos, pois colocar os rótulos com muita precisão, mas com tamanha lentidão que se torne impossível entregar o que vendeu, obviamente não está certo; mas, de outra parte, colar excessivamente rápido, em grandes volumes, porém tudo torto, a ponto de comprometer a imagem do produto, é também fora de propósito.  O funcionário que ficava em segundo lugar na produtividade estava sendo eficaz: ele tinha boa produtividade - por isso era o segundo colocado - e tinha precisão por executar com qualidade. Este exemplo pode ser encontrado em qualquer empresa com as situações corriqueiras de seu dia a dia. O importante é entender que a missão, no caso em pauta, era ter refrigerantes com um bonito rótulo colado, pois os rótulos bem aplicados contribuíam para a imagem do produto.
 
Vejamos outro exemplo.  Imagine que a missão de dois profissionais seja ir de Juiz de Fora a Belo Horizonte em Minas Gerais.  Ambos saem no mesmo horário, porém um pega a BR 040 e chega ao destino em 3 horas, perfazendo os 280 km do trajeto com cerca de 28 litros de gasolina. O segundo motorista resolve seguir o caminho passando por Manhumirim e de lá para BH. Resultado: gasta 16 horas de viagem num trajeto superior a 1000, queimando mais de 100 litros de gasolina. Como não estipulamos um prazo máximo para o cumprimento da missão, ambos foram eficientes, pois cumpriram o que se devia, ou seja, chegaram ao destino.  Porém, o primeiro, além de eficiente foi eficaz.
 
Pare e pense na sua função e nas tarefas que tem recebido, preste atenção se as tem efetuado da melhor forma possível, pois sempre haverá uma maneira de fazer melhor.  Já presenciei empresas que conferem aos líderes o objetivo de mudar para melhor algo que está sendo feito na empresa. Na própria Alterdata já tivemos uma competição chamada “Caça ao Gambá” onde todos da empresa podiam registrar rotinas, processos, métodos utilizados que poderiam ser melhorados ou eram desnecessários.  Pretendia-se encontrar coisas que poderiam melhorar a produtividade geral da empresa, e foram postadas mais de 100 sugestões de alterações de rotinas, que, após classificadas, foram ranqueadas, premiando-se posteriormente as três mais importantes.
 
Nos dias atuais as empresas precisam que seus colaboradores ajudem a administrar o negócio, como atores da transformação deste, mudando algo para melhor.  Segundo declarou Henry Kissinger, "o sucesso resulta de cem pequenas coisas feitas de forma um pouco melhor. O insucesso, de cem pequenas coisas feitas de forma um pouco pior".
 
Alguns leitores podem estar se perguntando neste momento como saberão se são eficazes ou não, pois a questão pode levar a interpretações díspares resultantes de diferentes padrões culturais de exigência. Existem líderes que parecem jamais se satisfazer com o que os subordinados fazem, gerando neles grande frustração. Muitos líderes se comportam desta forma sob a crença de que se passarem a concordar, ou aliviarem nas exigências, os subordinados entrarão em uma zona de conforto, o que não é bem verdade.  O bom líder é instrutor, educador, e desta forma, se o liderado não entregar o que se comprometeu conforme aos padrões esperados, este deve orientar. Contudo, a recíproca é verdadeira: o subordinado não pode depender de orientação do líder todo o tempo. Existem subordinados que simplesmente não se esforçam, esperando o superior orientar ou até mesmo dar o acabamento final ao trabalho, deixando claro que não estão aptos a assumir cargos mais elevados. O colaborador há de compreender que, ao exercer um cargo e executar as respectivas tarefas, estará sendo concomitantemente avaliado para assumir cargos de maior alcance, e desta forma precisará se esforçar para afinar-se com o que líder pensa, o que ele valoriza como padrão de qualidade e excelência, destarte tornando-se mais e mais alinhado com a cultura da empresa. O subordinado precisa ter a certeza de que o líder cansará de orientar e corrigir o tempo inteiro, preferindo, por isso mesmo, outro profissional mais interessado em compreender a missão.  Ao subordinado convém compreender que ele é o maior interessado na própria carreira, e haver emergências em resolver problemas no curso do trabalho é saudável, sendo uma forma dele exercer o que tem mais valor para uma empresa - “a capacidade de resolver problemas”.
 
Segundo Ives Doz, renomado professor de doutorado em Harward, “ a maioria das empresas morrem não porque fazem coisas erradas, mas porque fazem as coisas certas por um longo período de tempo”.
 
Então pare de reclamar da empresa que você trabalha, e seja o motor de transformação desta organização para os padrões que você acredita serem os melhores do mercado.
 
Como prática, sugiro ao líder criar uma competição de “Caça ao Gambá”: passe um comunicado dizendo que rotinas antigas, ultrapassadas e custosas são gambás malcheirosos na empresa, que em nada contribuem para a organização ser eficaz, razão por que a diretoria precisa que todos ajudem a encontrar os gambás, expondo as rotinas que acreditam possam ser feitas de melhor forma, com menos custos e maior produtividade. Crie um prêmio, que dependendo da sua empresa, tanto poderá ser um almoço num bom restaurante como um carro Ferrari ao vencedor.  Tenho certeza que sua empresa melhorará a olhos vistos e todos os colaboradores se sentirão parte determinante da transformação do negócio.


Ladmir Carvalho
Diretor Executivo - Alterdata Software